30 outubro 2009

Maré da vida

Lyall Watson

[Epílogo]
Tenho consciência, ao avizinhar-me do fim, de não haver conseguido, às vezes, encontrar as palavras certas para expressar alguma coisa que poderia, de um modo ou de outro, revelar-se inefável. Com o seu peso, as palavras tendem a cair como [aves de rapina] sobre idéias delicadas, levando-as consigo antes que elas tenham a oportunidade de atingir a fruição. Vi-me obrigado, por exemplo, em várias conjunturas críticas, a retomar a metáfora da maré.

Julian Jaynes não veria nisso razão para pedir escusas. “Compreender uma coisa é chegar a uma metáfora que a explique substituindo-a por algo que nos é mais familiar. E o sentido de familiaridade é o sentido da compreensão.” Acredita ele que no uso imaginativo da metáfora está o próprio fundamento da linguagem, e que esse emprego da linguagem fez de nós seres conscientes. Como [biólogo], devo inverter a cadeia causal e dizer que nunca teríamos sido capazes de fazer uma boa metáfora se já não fôssemos manifestamente conscientes. Entretanto, chegamos, no fim, a uma conclusão semelhante, que é esta: “a mente é um análogo do que se chama o mundo real.”
[...]

Fonte: Watson, L. 1980. Maré da vida. RJ, Difel.

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