01 outubro 2009

Aquerôntico

Lélia Coelho Frota

É de noite que os mortos voltam
em sua barca de papel
a roçar a porta do sono
em que inermes escurecemos
mais um dia – pulmão de chama
contrariando a luz da manhã!

É de noite pela amurada
que vêm se debruçar conosco
e indulgem – apenas sorriem
sem qualquer resguardo, sem ênfase –
em ir e vir, em ter partido.
Impressões de viagem? Alheias
como a do perfil de uma dracena.

Remiram-nos maliciosos
pensos de ternura se quedam
em sua fosca primavera,
atrás de embaciados acenos,
pacientes, à nossa espera.

Fonte: Pinto, J. N. 2004. Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial.

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