05 março 2010

A lógica da vida

François Jacob

[Introdução]
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Como as outras ciências da natureza, a biologia perdeu, hoje, muitas das suas ilusões. Não procura mais a verdade. Constrói a sua. A realidade aparece, então, como um equilíbrio sempre instável. No estudo dos seres vivos, a história mostra a existência de uma sucessão de oscilações, de um movimento pendular entre o contínuo e o descontínuo, entre a estrutura e a função, entre a identidade dos fenômenos e a diversidade dos seres. É deste vaivém que, pouco a pouco, emerge a arquitetura do vivo, que esta se revela em camadas cada vez mais profundas. No mundo vivo, como fora dele, trata-se sempre de “explicar o visível complexo pelo invisível simples”, como disse Jean Perrin. Mas, nos seres como nas coisas, trata-se de um invisível de camadas superpostas. Não há uma organização do vivo, mas uma série de organizações encaixadas umas nas outras como bonecas russas. Atrás de cada uma esconde-se uma outra. Além de cada estrutura acessível à análise acaba se revelando uma nova estrutura, de ordem superior, que integra a primeira e lhe confere suas propriedades. Só se chega a esta destruindo-se aquela, decompondo o espaço do organismo para recompô-lo segundo outras leis. A cada nível de organização evidenciado corresponde uma nova maneira abordar a formação dos seres vivos. A partir do século 16, vê-se aparecer, em quatro momentos, uma nova organização, uma estrutura de ordem cada vez mais elevada: primeiro, com o começo do século 17, a articulação das superfícies visíveis, o que se pode chamar de estrutura de ordem um; depois, no final do século 18, a “organização”, estrutura de ordem dois que engloba órgãos e funções e que acaba transformando-se em células; em seguida, no começo do século 20, os cromossomos e os genes, estrutura de ordem três oculta no interior da célula; enfim, no meio deste século, a molécula de ácido nucléico, estrutura de ordem quatro em que se baseiam hoje a conformação de todo organismo, suas propriedades e sua permanência através das gerações. A análise dos seres vivos é realizada sucessivamente a partir de cada uma destas organizações.
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Fonte: Jacob, F. 1983 [1970]. A lógica da vida. RJ, Graal.

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