Os elefantes não esquecem
Agatha Christie
1.
[...]
– Sra. Oliver! – gritou a criatura estridentemente – que prazer vê-la aqui! Sempre quis conhecê-la, pois sou fanática pelos seus livros. Meu falecido marido nunca viajava sem levar peloo menos dois livros seus... Venha sentar-se aqui, pois tenho milhões de coisas para lhe perguntar.
Já que tem que ser, é melhor acontecer logo, pensou a Sr. Oliver resignadamente, enquanto se deixava arrastar até um sofá onde o dragão se abancou com uma xícara de café.
– Acomode-se bem para termos uma longa conversa – ameaçou a agressora. – A senhora ainda não sabe meu nome: sou a Sra. Burton-Cox.
– Pois não! – exclamou baixinho a Sra. Oliver, envergonhada. [...]
– A senhora vai se espantar com o que eu vou dizer – iniciou a Sra. Burton-Cox – mas eu sinto, lendo os seus livros, que a senhora é uma mulher muito compreensiva e uma grande conhecedora da alma. Por isso, se existe uma pessoa que possa me dar uma resposta para o que eu desejo saber, esta pessoa é a senhora!
– Eu? Ora, minha senhora... – balbuciou a Sra. Oliver timidamente, querendo se esquivar da tremenda responsabilidade que a interlocutora estava tentando lhe atirar às mãos.
A Sra. Burton-Cox mergulhou um cubo de açúcar no café e mordeu-o carnivoramente, como se fosse um pedaço de osso. Dentes de marfim, pensou a Sra. Oliver, como dos cachorros, dos elefantes ou dos hipopótamos?
– A senhora tem uma afilhada chamada Celia Ravenscroft? – perguntou a Sra. Burton-Cox.
– Tenho – respondeu a Sra. Oliver, agradavelmente surpresa. [...]
– Celia Ravenscroft... – repetiu a Sra. Oliver, fingindo lembrar-se. – Claro, claro...
[...]
– Eu não vejo Celia há anos!
– É natural! Uma garota tão impulsiva, sempre mudando de idéia! Muito inteligente. Fez um curso universitário brilhante, mas politicamente, bem, politicamente todos os estudantes são radicais hoje em dia – concluiu a Sra. Burton-Cox.
– Eu não entendo nada de política! – sentenciou a Sra. Oliver, que tinha horror ao assunto.
– Vou confiar na senhora, pois sei que é muito boa e generosa.
Será que ela vai me pedir dinheiro? – pensou a Sra. Oliver.
– É um assunto de suma importância para mim. Preciso saber a verdade. Celia vai, ou penso que vai, casar com meu filho Desmond.
– É mesmo?
– É o que pretendem no momento. O que eu quero saber é bastante difícil de perguntar e não posso recorrer a ninguém, a não ser a senhora que, para mim, é como se fosse uma amiga íntima.
[...]
A Sra. Burton-Cox inclinou-se para a frente e respirou fundo.
– Quero saber, pois tenho certeza de que a senhora sabe, ou pelo menos tem alguma informação a respeito, se a mãe dela matou o pai ou se foi o pai quem matou a mãe?
[...]
Fonte: Christie, A. 1997 [1972]. Os elefantes não esquecem, 18ª impressão. RJ, Nova Fronteira.
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