16 outubro 2010

A morte do poeta

Rainer Maria Rilke

Ali jazia. Sobre o travesseiro erguido
era de rejeição seu pálido semblante,
desde que o mundo, e o que dele conhecera antes
de arrancado dos seus sentidos,
retornou ao ano desinteressante.

Os que o viam viver nem devem ter suposto
o quanto ele era um só com tudo isto, com estes
prados, estas baixadas, estas águas: destes
era feito, eles eram o seu próprio rosto.

Oh o seu rosto tinha toda esta largura
que ainda o quer, que ainda o anda a procurar,
e sua máscara de morte, ansiosa, alvar,
também é tenra e aberta como a carnadura
de uma fruta qualquer que apodrecesse ao ar.

Fonte: Rilke, R. M. 1993. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1907.


0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker