18 outubro 2010

Senescência

Peter B. Medawar & Jean S. Medawar

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A extrema sistematização, previsibilidade e caráter aparentemente ‘programático’ da senescência tem constituído um desafio aos [biólogos teóricos] há muitos anos. A mais famosa teoria patológica do envelhecimento – a teoria que trata o envelhecimento como um processo mórbido – foi a do zoólogo russo Elie Metchnikoff, um homem também célebre pela descoberta da fagocitose e por ter sido o primeiro a produzir um soro antilinfocitário. O envelhecimento, acreditava ele, deve-se ao auto-envenenamento cumulativo – à auto-intoxicação – pelas toxinas de bactérias normalmente residentes no intestino. Pensava também que tais processos poderiam ser diminuídos ou anulados pela substituição da flora intestinal por bacilos de ácido láctico. É à defesa de Metchnikoff que devemos a vasta popularidade atual do iogurte como artigo dietético; e também proveio dele a crença em que os camponeses búlgaros devem sua longevidade ao consumo regular de coalhada. [Os clínicos observaram que o consumo de muitos iogurtes comerciais modernos, com seus preservativos, por vezes mal-definidos, certamente levaria as vidas dos camponeses búlgaros a um fim prematuro.]

Embora a teoria especial de Metchnikoff do processo de envelhecimento não tenha encontrado favor, ele merece grande crédito por ter sido o primeiro a tratar o envelhecimento como um epifenômeno da vida – algo sobreposto aos processos normais da existência – e não como um fenômeno acarretado, de algum modo, pelos próprios processos vitais. Pensa-se hoje, em geral, que isso constitua um sinal de bom discernimento por parte de Metchnikoff.
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Fonte: Medawar, P. B. & Medawar, J. S. 1978. A ciência da vida. RJ, Zahar.


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