O senhor do abismo
Francesco Santoianni
Diz a lenda que um dia Buda decidiu reunir todos os animais da Terra, prometendo aos que aparecessem uma recompensa proporcional à sua onipotente e milagrosa serenidade. Como a cabeça dos animais estava tomada pelas preocupações do momento, a maior parte recusou o convite do divino Mestre. Apenas doze animais apareceram, sendo o primeiro o rato. Para agradecer aos doze bichos que atenderam o apelo, Buda ofereceu um ano a cada um. A partir daquele momento cada ano seria dedicado a um animal: teria seu nome, sua marca e influenciaria para sempre o caráter e o comportamento dos homens nascidos naquele período. O primeiro foi o ano do rato, que deveria se repetir a cada doze anos por vinte e cinco séculos, transmitindo aos ‘homens-ratos’ astúcia, grande inteligência e criatividade, emotividade, prudência alternada com confiança – talvez excessiva – em si mesmos, ciúmes, intensa sexualidade, gula, avareza alternada com momentos de esbanjamento, espírito de destruição, intuição.
Animal com tendência yin, o rato é um arquétipo nas religiões do Extremo Oriente: provém do norte e pertence ao solstício de inverno, vive trezentos anos e fica branco após ter vivido cem. Pródigo com aqueles que o apreciam, é o símbolo da riqueza e da prosperidade (jamais se hospeda em casas em que há escassez de alimentos), mas é difícil alcançar seus domínios, pois é o senhor das forças ocultas, do mundo subterrâneo. Símbolo de feitos noturnos e clandestinos, o rato provoca temor e ambição. Aos que não o temem, porém, oferece seu maior dote: a segunda visão.
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Fonte: Santoianni, F. s/d [1993]. Todos os ratos do mundo. SP, Best Seller.
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