Não era a Morte, pois de pé me erguia
Não era a Morte, pois de pé me erguia,
E os que morrem – desabam –
Não era a Noite – em sua Língua os Sinos
“Meio-dia” – falavam –
Não era o Gelo, pois na minha Carne
Rastejava – o Siroco –
E se a capela os pétreos pés me tinham
Frios – não era o Fogo –
Mas me sabiam a essas coisas todas
Os Vultos que eu já vira
Postos em ordem para algum Enterro
Que o meu me parecia –
Qual se aparada a minha vida fora
Para caber num quadro,
Sem poder respirar, perdida a chave,
E a Meia-noite ao lado –
Quando tudo que pulsa – agora extinto –
E o Espaço a olhar em volta –
O Gelo horrendo na manhã de Outono
Cobrindo a Terra morta –
E mais o Caos – irrefreável – frio –
Sem Mudança ou Roteiro –
Sem Notícia do Mundo que dê causa
A esse Desespero
Fonte: Dickinson, E. 2006. Alguns poemas. SP, Iluminuras. Poema publicado em livro em 1924.
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