Mais rápido que a velocidade da luz
João Magueijo
1.
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Digo isto logo de início não para me gabar, mas porque este livro trata de uma especulação científica extraordinariamente controversa. Em ciência há muito poucas coisas tão sólidas quanto a teoria da relatividade de Einstein. E é precisamente esta teoria que a minha idéia questiona – ao ponto de fazer parecer que estou cometendo um suicídio profissional. Não é por isso surpreendente que um[a] [revista] de divulgação científica tenha dado o título Heresia a um artigo sobre o meu trabalho.
Normalmente, chama-se de especulação algo com o que não se concorda, e assim se poderia pensar que a especulação não tem nenhum papel a desempenhar na ciência. Na verdade, acontece exatamente o contrário. Em física teórica, especialmente no meu ramo, a cosmologia, passamos a maior parte do tempo tentando descobrir falhas nas teorias que já existem, bem como analisando novas teorias que por ventura permitam descrever tão bem ou melhor que as anteriores os dados experimentais. Somo pagos para duvidar de tudo o que outros propuseram antes, para propor nós mesmos alternativas ousadas e para discutir interminavelmente entre nós.
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Especular é imensamente divertido, especialmente quando, ao fim de muita discussão e de termos convencido todos os que nos cercam da correção do que afirmamos, de repente nos damos conta de que há alguma falha embaraçosamente simples que invalida a nossa especulação e de que por isso estivemos induzindo todos ao erro durante uma hora – ou vice-versa: que nos deixamos levar como crianças por outra pessoa cuja especulação era igualmente inválida.
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Fonte: Magueijo, J. 2003. Mais rápido que a velocidade da luz. RJ, Record.
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