21 janeiro 2012

A chegada da noite

Paulo Bentes

Noite úmida cai...
Grilos impertinentes
se escondem
pelos pastos molhados
brincando de telegrafia.
Um grita
outro responde.
Um grita
outro responde.
É um desafio teimoso
que não acaba mais.

Da torre da capelinha
do Padre Miguel
saem morcegos farristas
de asas moles
batendo...

O caminho do povoado
encharcado
e os moleques alegres
batem com força
os pés
pelas poças de lama.

Os muçambês bonitos
florando...

Noite úmida cai...
E os grilos brincam
de telegrafia.

Nas casinhas caiadas
dos colonos
onde a noite vai entrando
sem pedir licença,
começam a piscar
as lamparinas fumacentas.

Lá encima
no céu
uma ou outra estrelinha
azulada
piscando também...

O gado está recolhido...
E a noite,
vem caindo úmida,
umidamente triste
e pesada, embrulhando tudo...

Os moleques alegres
já não brincam
pelas poças de lama.
Já não passam mais
os caminhantes
enterrando os pés
no tijuco viscoso
do caminho...

Só os grilos impertinentes
riscam o silêncio frio
brincando de telegrafia.

Fonte (primeira estrofe): Lenko, K. & Papavero, N. 1979. Insetos no folclore. SP, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas. Poema publicado em livro em 1940.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker