Pobreza urbana
Milton Santos
5.
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As teorias do desenvolvimento têm sido apresentadas como soluções para corrigir as desigualdades entre indivíduos, regiões e países. Admite-se, geralmente, que essas teorias exigem um quadro de referência internacional, ou seja, um modelo estranho aos países envolvidos. A idéia de planejamento, um corolário do desenvolvimento, muito contribuiu para reforçar esse ponto de vista, o chamado objetivo final, que seria encontrar medidas para eliminar, tanto quanto possível, as disparidades. Todavia, apesar de terem decorrido trinta anos desde que os conceitos de desenvolvimento e planejamento tornaram-se idéias-força, as desigualdades não pararam de aumentar a nível individual, regional e internacional. A interminável discussão a respeito do que constitui crescimento e desenvolvimento tem sido estéril. Isso ocorre porque, ao invés de partirem da realidade, os teóricos tendem a adotar uma formulação irreal como quadro de referência, perseguindo uma ‘ilusão’, como diria Bachelard. O medo de continuar a planejar a pobreza indefinidamente é um estímulo suficiente para se fazer uma tentativa de abordar o problema de maneira diferente.
A extrema penúria em que vivem centenas de milhões de seres humanos tem sido objeto de vasta literatura. A pobreza urbana, ou melhor, os aspectos da pobreza ligados diretamente à urbanização, têm sido alvo de grande parte dessa atividade intelectual febril e determinada. Contudo, o problema real encontra-se na explicação da pobreza.
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Fonte: Santos, M. 1979. Pobreza urbana, 2ª edição. SP, Hucitec.
1 Comentários:
O mestre Milton Santos sempre soube ir no ponto certo das questões. Por isso sua sabedoria permanece.
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