Vem conhecer, amigo, esta locanda
Mário Pederneiras
Vem conhecer, amigo, esta locanda,
Toda aromada de jardins e horta...
Um jasmineiro em flor sobre a varanda
E cantigas de mar chorando à porta.
Tem uma vista linda...
Fica-lhe em frente
– Numa saudosa sugestão infinda –
A paisagem mais ampla e mais bizarra,
Pois que dá para a barra
E para o Sol nascente.
Quando o Verão pujante salta
E o seu temido pavilhão desfralda,
Sinto-o daqui, través do Sol que escalda
A Terra e os Céus esmalta.
Então é lindo este pedaço
De Terra simples e consoladora,
Com sua doce claridade loura
E a sua rija atmosfera de aço.
Tão límpido é o Céu que até parece
Todo feito de argila
E o Mar em brilhos trêmulos cintila
– Como se estranha mão de deusa ou fada
Houvesse
Espargido cristais pela enseada.
O Mar fica fronteiro
À nossa honesta e plácida vivenda –
Um Mar de lenda,
Apertado em eterna calmaria
Na mais linda baía
Na mais linda, talvez, do mundo inteiro.
Fonte (primeira e última estrofe): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. O trecho acima integra a segunda parte de um poema mais extenso, ‘Vida simples’, publicado em livro em 1906 com a dedicatória ‘A Gonzaga Duque’.
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