21 maio 2012

Ode à pátria

Eduardo Ritter Aislán

Pelos fecundos prados onde sega
Sua dor infinita e renovada
A vasta emigração do pensamento,
Volta a esculpir sua voz de essência dissipada

O trânsito floral de um sonho roto.

Voltam a arar a terra da memória
A letal erosão das esperanças,
A ferrugem do amor adolescente
E a vigência tenaz de um desencanto.

Arrastam outra vez cadeias infrangíveis
Os fugazes anelos liberados,
E nos duros barrotes do silêncio
Voltam desertas vozes a agarrar-se.

Voltam vozes cordiais, a aflorarem na hera
Que recobre as paredes de muitos desenganos,
E da habitual tertúlia
Também volta a alegria
A assomar seu tremor de nubentes gerânios.

Volta o cinzel azul de meus anseios
A cinzelar com ouro
As ondas do mar pátrio
Nas praias sossegadas da memória.

E voltam a legar
Sua atônita brancura
Os áridos caminhos que a puerícia
Incorporou à vida
E a franjar, com eflúvios
De nardos e de cravos,
Pátria, tua presença imperecível.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.

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