Chamdrîm
Vem, Chamdrîm feiticeiro, com a tua luz concreta,
Transformar as casas de churtas em casas de prata,
E deixar que os fazares penetrem oiteiros
Em busca de bambus com que tecer sobrevivência!
O Mandovi e o Zuari, fios de lágrimas salgadas,
Abrigam deuses tisnados e humildes,
Que nas noites escuras regressam tristes
Com alforrecas nas redes e com as tonas vazias.
Vem, Chamdrîm, rei do firmamento nocturno,
Perolizar, com as tuas tintas mágicas,
Os troncos nus de curumbins crestados pelo sol
– Velas derretendo no perene meio-dia!
Vem rasgar o mistério das aldeias moribundas
Onde serpentes venenosas mordem a noite.
A morte espia os camponeses, no regresso das várzeas,
Banhados em suor de terra – com olhos nos pés!
Vem, Chamdrîm, alumiar poços e regatos,
Onde mainatos, vergados, lutam com a imundície.
Sem ti, o sol tropical ardia crânios...
Por isso, Chamdrîm, és o deus dos pobres!
Fonte: Figueiredo, C. 2004. 100 poemas essenciais da língua portuguesa. BH, Editora Leitura. Poema publicado em livro em 1962.
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