23 setembro 2012

A vida no mar

A. Lee McAlester

Os seres marinhos, sejam animais ou vegetais, costumam ser pouco familiares à maioria das pessoas, salvo as que moram à beira-mar. No entanto, eles são de extraordinária importância para o entendimento da história da vida, graças ao fato de que a maioria dos filos de organismos originou-se no mar. Se se observar a classificação dos organismos [...] veremos que quase todos os filos ainda hoje são encontrados no mar. Por outro lado, são também muitos os filos que ocorrem exclusivamente no mar. É provável que todas as plantas e animais pré-cambrianos, discutidos no primeiro capítulo, viveram em ambiente marinho, assim como grande parte dos organismos viventes durante os períodos cambriano e ordoviciano. Somente nos períodos siluariano e devoniano que a superfície terrestre perdeu seu aspecto desértico e inanimado, pois, foi a época na qual os animais e as plantas do mar iniciaram a sua transição para a terra firme. [...]

Os tipos de seres viventes dos mares

Os animais e plantas dos mares possuem três modos diferentes de vida. Podem flutuar passivamente na água, nadar ativamente ou viver enterrados, entre as rochas ou, ainda, na lama depositada no fundo dos mares.

Estes hábitats definem assim três grandes grupos de organismos marinhos, o plâncton (organismos flutuantes), o nécton (animais que nadam) e o bento (organismos que vivem nos fundos). Os organismos planctônicos são divididos em fitoplâncton (plantas flutuantes) e zooplâncton (animais flutuantes). Como as plantas são destituídas de movimento ativo, essa distinção é desnecessária em relação ao nécton. Os seres bentônicos, por sua vez, não recebem nomes especiais. [...]

Plâncton

Com exceção de algumas medusas flutuantes, o plâncton compõe-se de animais e plantas microscópicas. Do mesmo modo que na terra firme, toda a vida marinha depende da fotossíntese, processo realizado pelos minúsculos dinoflagelados, diatomáceas e muitas outras algas que medram nas partes mais rasas (até 80 metros de profundidade, no máximo) onde é possível penetrar a luz do sol. [...]

Nécton

São os seres que nadam ativamente, predominando os vertebrados: peixes, tartarugas, baleias, focas etc., além de muitos répteis já extintos. Entre os invertebrados, citaremos os cefalópodes, que, pela sua força e desenvolvimento cerebral chegam a competir com os vertebrados. A maior parte do nécton é constituída de animais predadores, alimentando-se tanto do plâncton como do bento ou do próprio nécton.

Bento

Entre os seres bentônicos, citaremos as algas macroscópicas, as bactérias, diatomáceas, raros fungos e um grande número de animais. As algas ocorrem nas partes rasas, iluminadas, mais comumente juntos aos rochedos. Têm grande importância como alimento e como esconderijo para um grande número de animais. [...]

Ao contrário das algas, os animais bentônicos não necessitam de luz solar, podendo alimentar-se de detritos ou restos mortos caídos de cima. Por isso, é grande a variabilidade dos seres bentônicos marinhos. [...]

Adaptações dos invertebrados bentônicos

Os invertebrados marinhos que vivem nos fundos podem se alimentar de quatro modos diferentes: dois destes são os mesmos que encontramos entre os animais terrestres: os herbívoros, que se alimentam principalmente de algas, e os carnívoros ou necrófagos, que comem outros animais vivos ou mortos. Os outros dois tipos são de grande importância no mar, mas muito raros na terra. Trata-se dos animais que sugam e filtram a água juntamente com a lama depositada no fundo da mesma, retirando dela os minúsculos organismos planctônicos e a matéria orgânica detrítica. A maior parte desses animais produz turbilhões na água do mar, por meio de delgados cirros. A corrente formada passa através de um dispositivo capaz de reter e de acumular as partículas alimentícias, freqüentemente com a ajuda de um muco pegajoso, para depois transferi-las à boca. O último processo de apanhar o alimento é análogo ao usado pela minhoca, que ingere indistintamente substâncias minerais e orgânicas. O que serve de alimento é retido pelo organismo e o restante é excretado. [...]

Fonte: McAlester, A. L. 1971 [1968]. História geológica da vida. SP, Edgar Blücher.

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