19 setembro 2012

Ruínas

Teófilo Dias

Ó rotos coruchéus! ó velhas catedrais!
Outrora tínheis vós agulhas pensativas,
Que roçavam nos céus as nuvens fugitivas
Com o extático afã dos beijos sensuais!

Meu pensar, como vós em torres ideais,
Ergueu também visões fantásticas, altivas,
Como em belos haréns as lânguidas cativas
Dos grandes castelões, dos déspotas feudais!

Que resta hoje de vós? Que lenda aos viajores
Contais, ó torreões? – Em lúbricos amores
A elétrica tormenta um dia vos prostrou!

Tal de minhas visões a sombra peregrina
Sumindo-se me aponta – em meio da ruína
De tudo que sonhei – o Deus que me habitou!

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1878, com a dedicatória ‘A Fontoura Xavier’.

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