I-vos, i-vos, céus nublados...
(Fala da Primavera)
I-vos, i-vos, céus nublados,
ventanias, nevoeiros!
Reverdeçam os outeiros,
vales, montanhas e prados!
Seja o frio aniquilado,
saíam os frescos vapores,
pinte-se o campo de flores,
alegre-se o semeado!
Volte já a formosura
a tudo o que foi criado,
às flores a brancura,
à terra sua verdura,
que o mau tempo lhe há roubado.
Bendito o meu poderio
que dá claridade aos céus!
Benditos os zelos meus
pelo que é meu senhorio!
O que é deus dos amores
me deu seu poder e chaves,
que mande cantar às aves
os salmos de seus amores.
E as damas sem piedade
saibam que sou o florido
mensageiro de Cupido,
e não tem minha amizade
coração desagradecido.
Fonte: Quintela, P. 2001. Obras completas, vol. 5. Lisboa, Calouste Gulbenkian. Gil Vicente (1465?-1536?) foi um dos pioneiros da literatura renascentista portuguesa.
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