02 setembro 2012

As quatro estações

Christopher Hogwood

Em vista do entusiasmo deste século por Vivaldi em geral e [por] As quatro estações em particular, é salutar encontrar uma avaliação um tanto menos parcial desta obra por parte de um historiador do século dezoito, Sir John Hawkins. Ele faz uma ampla referência a Vivaldi em sua História, observando sua popularidade, mas [duvidando] de sua seriedade – um sentimento comum entre os ingleses, que haviam sido levados a respeitar a sobriedade da música de Corelli.
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Contra a dedução de Hawkins, naturalmente, temos o próprio título de Vivaldi: A competição entre a harmonia e a invenção – isto é, entre o lado racional e o imaginoso da música.

Os dois lados foram separados nos títulos de suas séries anteriores de concertos de cordas – L’estro armonico, de 1711, enfatizando a existência de contenções, La stravaganza, c. 1714, demonstrando o poder da inspiração de derrubar as regras. Il cimento, contendo doze concertos, apareceu no final de 1725, publicado em Amsterdã por Le Cène, sucessor de Roger, que havia editado os concertos anteriores de Vivaldi. Na dedicatória a Wenzel von Morzin (primo do aristocrata boêmio que viria a ser o primeiro patrono de Haydn em Lukavec), Vivaldi se descreve como ‘Maestro in Italia’ do Conde, significando presumivelmente que se fizera responsável pelo fornecimento da ‘virtuosissima orchestra’ de exemplares dos últimos concertos. Pode-se certamente deduzir que Morzin (ou Marzin, como escrevia Vivaldi) ouvira um pouco de Opus VIII antes de ir à impressão, desde que Vivaldi lembra-o de que ele conhecera e aprovara Le quattro stagioni ‘da tanto tempo’.
[...]

Para explicar e justificar seus vôos mais bizarros de inventione em Le quattro stagioni, Vivaldi acrescentou um ‘sonetto dimonstrativo’ a cada estação como um guia programático. Um elaborado sistema de letras-chave impressas sobre o texto musical, [junto com] extratos dos sonetos um tanto desajeitados (obra do próprio Vivaldi?), possibilita-nos identificar cada nuance de meteorologia, de ornitologia, ebriedade e hibernação. As partes chegam a conter algumas explicações não encontradas nos sonetos: o latido do cão pastor, por exemplo, no movimento lento de La primavera, é identificado só na parte de viola (‘Il cane che grida’). Para conveniência do ouvinte moderno, os quatro sonetos estão aqui incluídos, juntamente com durações de tempo calculadas do começo de cada concerto para localizar cada passagem como Vivaldi pretendeu.

Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Vivaldi: Le quattro stagioni (1983), com a ‘The Academy of Ancient Music’, sob a regência de Christopher Hogwood.

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