28 março 2013

A morte do sol

Sosígenes Costa

Chovem lilases. Pôr de sol. Em frente
a mata é de nanquim. Passam de lado,
no rodapé vermelho do ocidente,
carros de rum de papel pintado.

É ali que o sol vai ser decapitado
para que à noite, Salomé dolente,
baile. Não há quem tanta dor aguente,
em mar de roxos e cinzentos nado.

No poente degola-se. – Quem morre?
Ninguém responde. Unicamente escorre
a golfada de sangue do arrebol.

E de Herodes fantástico soldado
põe na salva do ocaso ensanguentado
a cabeça de São João do sol.

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1959.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker