O cavalo de Samarra
Enzo Tiezzi
Na antiga Bassora, um soldado, cheio de medo, foi até seu rei e lhe disse: “– Salvai-me, soberano, ajudai-me a fugir daqui. Estava na praça do mercado e encontrei a Morte, vestida de negro, que me olhou de modo malévolo. Cedei-me vosso cavalo, para que eu possa correr até Samarra. Se permanecer aqui, temo por minha vida”. “– Daí-lhe o melhor corcel”, disse o soberano, “o filho do relâmpago, digno de um rei”.
Mais tarde, na cidade, o rei encontrou a Morte e lhe disse: “– Meu soldado estava apavorado. Disse-me que te encontrou hoje, no mercado, e que o olhavas de modo malévolo”. “– Não, não”, respondeu a Morte, “meu olhar era de surpresa, apenas, pois não sabia o que ele fazia hoje por aqui, visto que o esperava em Samarra, esta noite. De manhã, estava muito longe de lá”.
[...]
Fonte: Tiezzi, E. 1988 [1984]. Tempos históricos, tempos biológicos. SP, Nobel.
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