Marsyas
Marsyas es el árbol que canta.
(Alfonso Reyes)
Frente ao céu
cresce a árvore escura
de minha insônia.
Não importa o dia:
sua presença é noite
que me esvazia.
Estendo o rosto
e a luz é um pânico
adolescente.
O mais atroz
modo de improvisar-me
o nada, deus.
Se raio me tornasse,
a árvore que habito
me destruiria.
Se eu a queimasse,
nas chamas a árvore
me devoraria.
Pássaros são
as palavras que espera
meu coração;
machado, sonido
que difunde um silêncio
desconhecido;
sombra, a paz
que respiram as folhas
de meu disfarce.
Mesmo que desvie
o olhar para o fundo
claro do rio,
sempre me encontro
com a árvore escura
que trago dentro.
Fonte: Costa, H. 1992. Antologia de poesia hispano-americana atual. Revista USP 13: 186-205. Poema publicado em livro em 1988.
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