Só é meu
Marc Chagall
Só é meu
O país que trago dentro
da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
Ele vê a minha tristeza
E a minha solidão.
Me acalanta.
Me cobre com uma pedra
perfumada.
Dentro de mim florescem jardins.
Dentro de mim florescem jardins.
Minhas flores são
inventadas.
As ruas me pertencem
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas
ruas.
As casas foram destruídas
desde a minha infância.
Os seus habitantes
vagueiam no espaço
À procura de um lar.
Instalam-se em minha
alma.
Eis porque sorrio
Eis porque sorrio
Quando mal brilha meu
sol.
Ou choro
Ou choro
Como uma chuva leve
Na noite.
Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que essas
duas caras
Se cobriam de um orvalho
amoroso.
Se fundiam como o perfume
de uma rosa.
Hoje em dia me parece
Hoje em dia me parece
Que até quando recuo
Estou avançando
Para uma alta portada
Atrás da qual se estendem
muralhas
Onde dormem trovões
extintos
E relâmpagos partidos.
Só é meu
Só é meu
O mundo que trago dentro
da alma.
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Uma pintura de Chagall está aqui.
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Uma pintura de Chagall está aqui.
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