Presente do indicativo
Vasco Graça Moura
entro na cozinha. ela
está no meio dos legumes,
lava e enxuga folhas
tenras de alface, endívias
de oblonga contextura,
corta a cebola às
rodelas, pica um ramo de
coentros,
hesita um pouco sobre o
roquefort, é certeira no vinagre e no sal,
e prudente no azeite, o ovo cozido espera a sua vez e a
e prudente no azeite, o ovo cozido espera a sua vez e a
saladeira aguarda na mesa
junto aos azulejos brancos.
ela procura os talheres
de madeira na gaveta,
pede-me qualquer coisa, a
lâmina reluz sobre a tábua, perto do pão.
a preparação da salada requer vários gestos precisos
e uma poética discreta nos brilhos frisados, nos
a preparação da salada requer vários gestos precisos
e uma poética discreta nos brilhos frisados, nos
paladares, pela janela
chegam os ruídos da rua,
campainhas de bicicleta,
ressaltos de uma bola.
o cão dormita no sofá.
uns versos populares comparam
os olhos dela a azeitonas
pretas.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1987.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1987.
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