A um moribundo
Florbela Espanca
Não tenhas medo, não!
Tranqüilamente,
Como adormece a noite
pelo Outono,
Fecha os teus olhos,
simples, docemente,
Como, à tarde, uma pomba
que tem sono...
A cabeça reclina levemente
A cabeça reclina levemente
E os braços deixa-os ir
ao abandono,
Como tombam, arfando, ao
sol poente,
As asas de uma pomba que
tem sono...
O que há depois? Depois?... O azul dos céus?
O que há depois? Depois?... O azul dos céus?
Um outro mundo? O eterno
nada? Deus?
Um abismo? Um castigo?
Uma guarida?
Que importa? Que te importa, ó moribundo?
Que importa? Que te importa, ó moribundo?
– Seja o que for, será
melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que
esta vida!...
Fonte: Espanca, F. 1996. Poemas de Florbela Espanca. SP, Martins Fontes. Poema publicado em livro em 1931.
Fonte: Espanca, F. 1996. Poemas de Florbela Espanca. SP, Martins Fontes. Poema publicado em livro em 1931.
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