Lundum de cantigas vagas
Caldas Barbosa
Xarapim eu bem estava
Alegre nest’aleluia,
Mas para fazer-me triste
Veio Amor dar-me na cuia.
Não sabe, meu Xarapim,
Não sabe, meu Xarapim,
O que amor me faz passar,
Anda por dentro de mim
De noite e dia a ralar.
Meu Xarapim, já não posso
Aturar mais tanta arenga,
O meu gênio deu à casca
Metido nesta moenga.
Amor comigo é tirano,
Amor comigo é tirano,
Mostra-me um modo bem
cru,
Tem-me mexido as
entranhas
Qu’estou todo feito angu.
Se visse o meu coração
Se visse o meu coração
Por força havia ter dó,
Porque o Amor o tem posto
Mais mole que quingombó.
Tem nhanhá certo nhonhó,
Tem nhanhá certo nhonhó,
Não temo que me
desbanque,
Porque eu sou calda de
açúcar
E ele apenas mel do
tanque.
Nhanhá cheia de chulices,
Nhanhá cheia de chulices,
Que tantos quindins
afeta,
Queima tanto a quem a adora
Como queima a malagueta.
Xarapim tome o exemplo
Xarapim tome o exemplo
Dos casos que vê em mim,
Que se amar há de
lembrar-se
Do que diz seu Xarapim.
[Estribilho]
Tenha compaixão
[Estribilho]
Tenha compaixão
Tenha dó de mim,
Porqu’eu lho mereço
Sou seu Xarapim.
Fonte (exceto estribilho):
Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado
em livro em 1826.
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