Nictofagia
Natália Correia
Se eu pudesse beber-te, ó
noite,
Até encontrar o teu gosto,
Ou mordendo a ponta do
açoite
Da tua treva no meu
rosto,
Achasse a planície de
lume
De que és uma aresta de
estrelas
E sonhando sem peso e
volume
Fosse um sonho de chão a
tecê-las
E na praia de um trilo
sem flauta,
Instrumento das harpas do
fundo
Duma água escorrida da
pauta
Da manhã mais antiga do
mundo,
Me estendesses, ó noite
florida
Das sementes que trazes
no punho,
Uma adolescência impelida
Pelo arco das brisas de
Junho!
Fonte: Silva, A. C. &
Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em
livro em 1958.
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