Irracionalismo
Jorge Roux
Todos são ‘Casos’? – O
pressuposto mais geral das terapias psicológicas é que todo indivíduo que a
elas se submete tem sempre algo a ‘esconder’, conscientemente ou não. Se se
apresenta demasiado falante, é porque está se defendendo atrás de palavras; se
é uma pessoa reservada, o diagnóstico é também simples: ela se oculta atrás do
seu silêncio. O comedimento, por certo, também é uma defesa: é a suposta
segurança. Em resumo, é o paciente quem vai decidir se haverá necessidade ou não
de terapia, pois para o terapeuta haverá sempre uma vez que ele parte do ponto
de vista – plausível – de que só quem tem problemas resolve se submeter à
terapia.
Assim, se temos, de um
lado, alguém que sofre e se dispõe a ser paciente de um tratamento, às vezes
longo, e, de outro, um terapeuta possuidor de um repertório suficientemente
vasto para incluir todos os casos, qual o impedimento para se iniciar desde
logo a terapia? Em princípio, salvo casos raríssimos, não se recusa nenhum
cliente. Pois não possuem as entidades dos terapeutas bastante universalidade
para incluir, numa mesma e monótona teoria explicativa, todas as
possibilidades? Por definição, não há pessoas sem problemas. Há, sim, aqueles
que não se dão conta dos seus e por isso não se apresentam às terapias.
Pode-se questionar: terá
a nossa época problemas tão especiais, tão radicalmente diferentes dos das
gerações anteriores, que a humanidade precise, hoje, das muletas oferecidas
pressurosamente pelos terapeutas para sair da sua cadeira de rodas?
[...]
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