Enigmas e o ensino de matemática
Raymond Smullyan
Entre as muitas cartas
fascinantes que recebi por conta do meu primeiro livro de enigmas [...], uma
vinha do filho de dez anos de um famoso matemático, meu antigo colega de
escola. A carta trazia um belo problema original, inspirado em alguns dos
enigmas do meu livro, que o menino estava devorando. Tratei logo de telefonar
ao pai para cumprimentá-lo pela esperteza do garoto. Antes de chamar o filho,
meu amigo me disse baixinho, em tom conspiratório: “Ele está lendo o seu livro
e está adorando! Mas quando falar com ele, não dê a entender que se trata de
matemática, porque ele odeia
matemática! Se lhe passar pela cabeça que o que está fazendo na verdade é
matemática, ele pára de ler o livro na mesma hora!”
Cito esse episódio porque
ilustra um fenômeno muito curioso, mas também bastante comum: já conheci
inúmeras pessoas que dizem odiar matemática e, no entanto, ficam
interessadíssimas quando lhes proponho problemas lógicos ou matemáticos, desde
que sejam apresentados sob a forma de enigmas. Não me surpreenderia se
descobrissem que bons livros de enigmas são os melhores remédios na cura do
célebre ‘pânico de matemática’. E, digo mais, qualquer tratado de matemática poderia ser escrito sob a forma de livro
de enigmas! Às vezes fico imaginando o que aconteceria se Euclides tivesse
escrito nesse formato o seu clássico Elementos.
Em vez de declarar, por exemplo, sob a forma de teorema, que os ângulos da base
de um triângulo isósceles são iguais, oferecendo a demonstração em seguida,
poderia ter escrito: “Problema: dado
um triângulo com dois lados iguais, dois dos seus ângulos são necessariamente
iguais? Por que sim ou por que não? (Solução na página tal).” E o mesmo poderia
ter feito com todos os seus demais teoremas. Uma obra escrita assim teria
ótimas chances de vir a tornar-se um dos livros de enigmas mais populares da
história.
[...]
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