Soneto do desmantelo azul
Carlos Pena Filho
Então, pintei de azul os
meus sapatos
por não poder de azul
pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos
insensatos
e colori as minhas mãos e
as tuas,
Para extinguir em nós o
azul ausente
e aprisionar no azul as
coisas gratas,
enfim, nós derramamos
simplesmente
azul sobre os vestidos e
as gravatas.
E afogados em nós, nem
nos lembramos
que no excesso que havia
em nosso espaço
pudesse haver de azul
também cansaço.
E perdidos de azul nos
contemplamos
e vimos que entre nós
nascia um sul
vertiginosamente azul.
Azul.
Fonte: Pinto, J. N. 2004.
Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial. Poema publicado em livro em 1958.
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