01 março 2015

Um soneto... timorense

Ruy Cinatti

Quando pelas tardes garças se levantam
voando, levitando pontas de asas,
até cair nos dorsos, sofreadas,
de bois que pascigam livremente

o tempo imemorial que lhes foi dado,
meus olhos sorvem, frios, a lembrança
de traça que neguei impunemente,
como se de graça vivesse, renovado.

Se um olhar piedoso, piedade
pudesse por mim ter, abandonado
seguiria teus passos campos fora,

então, como se fora
garça em mais graça, levantando
em farsa de mim próprio, imorredoira.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1970.

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