Os animálculos
Lynn Margulis & Dorion Sagan
Os microrganismos eram
uma curiosidade, uma espécie de espetáculo secundário da história natural, até
se perceber que alguns deles provocavam doenças. Anton von Leeuwenhoek,
inventor de uma versão primitiva de microscópio na década de 1670, descreveu esse
seres como ‘animálculos’ – animais minúsculos. Impressionaram-se com seu
movimento rápido, suas formas estranhas e sua simples quantidade. Em 1831,
Agostino Bassi (1773-1856), um estudante italiano de direito que era
parcialmente cego, provou a existência das infecções, ao disseminar a
muscardina (doença do bicho-da-seda) de uma larva infectada por um fungo para
outra. Ainda assim, uma geração depois de Bassi haver mostrado que a doença não
surgia espontaneamente, até Pasteur achava que as bactérias eram apenas agentes
de decomposição.
Um momento decisivo
ocorreu quando Robert Koch (1843-1910) encontrou bactérias no sangue de vacas
atacadas de antraz. [...]
Finalmente a teoria do
contágio microbiano foi amplamente aceita. Tipos diferentes de bactérias foram
implicados no antraz, na gonorréia, na febre tifóide e na lepra. Os micróbios,
antes pequenas anomalias divertidas, foram transformados em demônios. Pasteur,
e depois dele Howard Hughes, tinha fobia à sujeira e aos germes. Evitava os
apertos de mão. Esfregava e secava a louça de barro que utilizava, procurando meticulosamente
indícios de madeira, lã e outros detritos em seus alimentos. Não mais sendo um
escândalo divertido para as conversas de salão, os micróbios transformaram-se
num ‘outro’ virulento, a ser destruído. A metáfora das tenazes bactérias
infecciosas foi usada na retórica nazista do genocídio. Hoje em dia, a baixa
estima que se tem pelas bactérias, como ‘agentes patológicos’ liliputianos,
continua a obscurecer sua enorme importância para o bem-estar de todo o
restante da vida.
[...]
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