Arúspice
Fernando Guimarães
Meu amor, as entranhas
das vítimas conservaram o seu enigma,
o fogo nos altares
apagou-se lentamente,
talvez como outrora já
não venham as pombas
alimentar-se de palavras
em nossas mãos erguidas.
Pelo céu os cometas
passaram mas a memória esquece
o vestígio de sangue que
nos deixa o seu brilho.
A areia secou os rios, as
nascentes,
enquanto só o tempo
prolonga a nossa esperança.
Junto de nós, a rosa foi
apenas o seu desenho de cinza,
uma criança nasce para
sempre coroada de espinhos,
tornaram-se finalmente os
nossos braços extensos e mais puros
para erguermos, amor, em
cada cruz um homem.
Fonte: Silva, A. C. &
Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro
em 1956.
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