Eros e civilização
Herbert Marcuse
1.
O conceito de homem que
emerge da teoria freudiana é a mais irrefutável acusação à civilização
ocidental – e, ao mesmo tempo, a mais inabalável defesa dessa civilização.
Segundo Freud, a história do homem é a história da sua repressão. A cultura
coage tanto a sua existência social como a biológica, não só partes do ser
humano, mas também sua própria estrutura instintiva. Contudo, essa coação é a
própria precondição do progresso. Se tivessem liberdade de perseguir seus objetivos
naturais, os instintos básicos do homem seriam incompatíveis com toda a associação
e preservação duradoura: destruiriam até aquilo a que se unem ou em que se
conjugam. O Eros incontrolado é tão funesto quanto à sua réplica fatal, o
instinto de morte. Sua força destrutiva deriva do fato [de eles] lutarem por
uma gratificação que a cultura não pode consentir: a gratificação como tal e
como um fim em si mesma, a qualquer momento. Portanto, os instintos têm de ser
desviados de seus objetivos, inibidos em seus anseios. A civilização começa
quando o objetivo primário – isto é, a satisfação integral de necessidades – é abandonado.
[...]
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