Choupos na luz do Luar
Jaime Cortesão
À beira do Rio, os
choupos
Riem baixo de felizes;
Afogam no Ar os topos,
Na veia d’água as raízes.
Quando se inclinam a
olhar,
Há Céu, há choupos no
fundo...
E exclama o Mundo do Ar:
– Lá na Água há outro
Mundo! –
Eco de Água, um choupo
diz,
Quando com outro se topa,
A copa: – Eu sou a raiz! –
A raiz: – Eu sou a copa! –
Passa o Rio, vento de Água,
Passa o Vento, rio aéreo,
E os choupos dizem com
mágoa:
– Rio ou Vento?!... Ai!
que mistério! –
– Onde vais, ó rio d’Ar?
E tu, vento d’Água,
aonde? –
Volve-lhe o Rio: – Pro
Mar. –
Mas o Vento não responde.
Ai!, lá vem a Tempestade;
E o choupo que o Vento
enreda
É um fogo de ansiedade,
Uma verde labareda.
Silêncio! Lá vem a Lua:
Chega um rio à foz da
serra,
E agora cai, desagua
E alaga de Luz a Terra.
E, mal o Luar os molha,
Os choupos, na noite
calma,
Já não têm ramos, nem
folha,
São apenas choupos de Alma.
Trémulos choupos esguios
A quem o Sonho
desgarra...
Vão à toa: são navios...
Quebrou-lhes a Noite a
amarra...
A Alma afoga a Matéria...
Névoa de choupos flutua…
Ai! que linda selva aérea
Vai da Terra até à Lua...
Os choupos têm um
convento,
Onde o Luar é o sino:
Mal rompe, nesse momento
Toca ao serviço divino.
E ei-los rezando orações,
Toda a noite, de mãos
postas;
Outros, fitando visões,
Têm as feições
descompostas.
Ou sumidos, espectrais,
Curvando os pálidos
topos,
Buscam as causas finais
Os metafísicos choupos.
E na calada da noite,
Já tarde, já noite feita,
Se há Poeta que se afoite
A ir ouvi-los de
espreita,
Ouve-os falar
transcendências
Num delido verbo etéreo,
P’ra além das vãs
aparências,
P’ra além do nosso
mistério!...
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