17 novembro 2015

Reminiscências

Belmiro Braga

Ao meu irmão Domingos Braga.

Nesta em que vivo triste soledade,
os olhos rasos d’água, o peito em ânsia,
recordo-me com mágoa e com saudade
da quadra tão feliz da minha infância.

E entre o viver de agora e essa áurea idade,
que triste, que cruel, que erma distância!...
E a manhã que passou voltar não há de
recendente de tépida fragrância?...

Serras virentes, que não mais transponho,
na retina fiel ainda eu vos tenho
e revejo através de um brando sonho

a casa onde nasci, as mansas reses,
a várzea, o laranjal, a horta, o engenho
e a cruz onde rezei por tantas vezes!...

Fonte: Braga, B. 2011 [1902]. Montezinas (primeiros versos). (Seleção, estudo crítico e organização de Leila Maria Fonseca Barbosa & Marisa Timponi Pereira Rodrigues.) Juiz de Fora, Funalfa.

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