19 dezembro 2015

Poesia contra a guerra, o livro

F. Ponce de León

Na última quinta-feira (17/12), recebi da gráfica os exemplares impressos do livro Poesia contra a guerra. A publicação – em comemoração ao aniversário de 9 anos – traz uma amostra do universo literário presente neste blogue.

São 100 poemas, arranjados em três grupos, de acordo com a data de nascimento dos poetas: os nascidos antes de 1501 (10 autores, de João Soares de Paiva a Sá de Miranda); entre 1501 e 1800 (24, de Luís de Camões a Almeida Garrett) e após 1800 (66, de Correia de Almeida a Ascânio Lopes).

Além de poetas ou poemas relativamente bem conhecidos, o livro abriga algumas preciosidades que são menos familiares ao leitor brasileiro de hoje. Nesse sentido, aliás, cabe reproduzir aqui as palavras – atualíssimas, ainda que escritas no início do século passado – de Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1910, p. x-xi):

Daria por bem empregados os meus esforços, se conseguisse dois intuitos: que cada leitor, embora leia indiferente e por alto dezenas de poesias, pare comovido diante de algumas; e que pouco a pouco a opinião pública se fixe naquelas que merecem, de facto, a qualificação de obras-primas da lírica portuguesa. Até hoje o aplauso unânime dos cultos ainda não consagrou senão certos nomes de reputação universal.

Critérios

A regra de ouro do blogue sempre foi a de publicar apenas e tão somente textos (poemas, trechos de artigos etc.) extraídos de alguma obra que eu tivesse em mãos. Trocando em miúdos, não bastava querer publicar esse ou aquele texto; era necessário também ter uma testemunha material – e.g., um livro no qual o poema (ou versos dele) estivesse presente. (As únicas exceções têm sido os textos que me são enviados pelos próprios autores.)

Na preparação dessa coletânea, adotei três critérios adicionais: i) publicar apenas poemas originalmente escritos em português (ou em idioma afim, como o galego); ii) selecionar um poema de cada autor (vários autores já tiveram mais de um poema publicado); e iii) incluir apenas autores cuja obra esteja em domínio público (i.e, autores falecidos há mais de 70 anos).

Fontes

Organizar uma coletânea de poesia implica em dois níveis de escolhas: os autores e os poemas. No que diz respeito aos primeiros, tive acesso a uma variedade relativamente ampla de nomes; com relação aos últimos, porém, isso nem sempre aconteceu. Basta dizer que, no âmbito dos cem autores incluídos, dos 38 livros usados como fonte inicial, apenas 16 lidam com um autor específico, oferecendo assim uma amostra algo significativa da obra de cada um deles. Com acesso a um acervo tão restrito, não seria de estranhar que muita poesia de primeira ficasse de fora; ainda assim, no entanto, arrisco dizer que a amostra reunida no livro, além de única e, até certo ponto, representativa, inclui algumas obras-primas. Seja como for, o livro não deve ser visto como uma coletânea do tipo ‘melhores poetas’ ou ‘melhores poemas’.

Nem todas as fontes secundárias são igualmente confiáveis – às vezes, a quantidade de erros e mal-entendidos presentes é bem superior ao que poderíamos chamar de ‘acidental’ ou ‘desprezível’. Uma explicação para isso estaria no fato de elas muitas vezes deixarem as fontes primárias de lado, transcrevendo versões encontradas em outras fontes secundárias. Tentei não cometer o mesmo erro. Para isso, cotejei a versão de cada poema presente nas fontes até então usadas pelo blogue com versões encontradas em obras mais específicas, incluindo, se possível, os originais. Algumas vezes, contudo, tive de me contentar com versões presentes em trabalhos de terceiros, conforme indico em cada caso.

Alguns versos

Alguns versos presentes no livro devem ser familiares ao leitor:

            Os dias, na esperança de um só dia,
            Passava, contentando-se com vê-la
                        Luís de Camões, p. 18.

            Oh! que saudades que tenho
            Da aurora da minha vida
                        Casimiro de Abreu, p. 68.

            E a fonte, sonora e fria,
            Cantava, levando a flor
                        Vicente de Carvalho, p. 102.

            Triste, a escutar, pancada por pancada,
            A sucessividade dos segundos
                        Augusto dos Anjos, p. 128.

            Perdi-me dentro de mim
                        Mário de Sá-Carneiro, p. 133.

Certos autores, contudo, estão representados por versos menos óbvios:

            Ó cousas, todas vãs, todas mudáveis!
                        Sá de Miranda, p. 17.

            Tanto era bela no seu rosto a morte!
                        Basílio da Gama, p. 39.

            A tarde morria! Nas águas barrentas
            As sombras das margens deitavam-se longas
                        Castro Alves, p. 79.

            No ar sossegado um sino canta,
            Um sino canta no ar sombrio...
                        Olavo Bilac, p. 99.

            Sou filha da charneca erma e selvagem
                        Florbela Espanca, p. 141.

Um terceiro e mais numeroso grupo reúne autores e versos pouco familiares; entre estes, no entanto, o leitor também poderá encontrar muitas gemas preciosas. Como estas, talvez:

            Fermoso Tejo meu, quão diferente
            Te vejo e vi, me vês agora e viste
                        Francisco Rodrigues Lobo, p. 25.

            Se acaso aqui topares, caminhante,
            Meu frio corpo já cadáver feito
                        Tenreiro Aranha, p. 48.

            Não, não é louco. O espírito somente
            É que quebrou-lhe um elo da matéria
                        Junqueira Freire, p. 61.

            Os jardins, e, por entre as árvores, a gente,
            Da qual a brisa traz as vozes, confundidas
                        Alberto Torres, p. 98.

            A dor, deserto imenso,
            Branco deserto imenso,
            Resplandecente e imenso,
            Foi um deslumbramento
                        Camilo Pessanha, p. 110.

            Olhos, que eu adorei cheios de álacre e vário
            luzir, – hoje da cor do lírio roxo orlados
                        Amadeu Amaral, p. 122.

            Estrelas fulgem da noite em meio
            Lembrando círios louros a arder...
            E eu tenho a treva dentro do seio...
                        Auta de Souza, p. 123.

            Poeta fui e do áspero destino
            Senti bem cedo a mão pesada e dura
                        José Albano, p. 127.

            Os meus olhos brilharão como os da fera
            que defende a entrada de seu fojo
                        Ascânio Lopes, p. 146.

Como adquirir o livro

Por via postal (como impresso registrado, com seguro), o livro será comercializado em seis opções de pacotes, com 1, 2, 4, 10, 20 ou 40 exemplares. O preço unitário é inversamente proporcional ao tamanho do pacote, variando entre R$ 30 (pacotes com 40 exemplares) e R$ 40 (1 exemplar).

O leitor interessado em obter informações adicionais, pode entrar em contato comigo pelo endereço meiterer[arroba]hotmail.com (trocando [arroba] por @).

Referências citadas

Ponce de León, F. 2015. Poesia contra a guerra. Viçosa, Edição do Autor.
Vasconcelos, CM. 1910. As cem melhores poesias (líricas) da língua portuguesa. Lisboa, Ferreira.

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