Túmulo de Baudelaire
Eduardo Guimaraens
Um anjo, que possui uma
espada de chama,
hirto e pálido, à fronte
um halo virginal,
guarda o Túmulo, junto ao
mármore imortal,
a que o Poeta desceu;
cego de luz e lama.
Outro, que às mãos
desfralda o ardor de uma auriflama,
olha, cismando, o azul
profundo como o mal;
e Lúcifer, enfim,
magnífico e fatal,
tem à boca a revolta em
que a blasfêmia clama.
Entre a aridez da terra e
a solidão noturna,
fundo abismo, do espaço
ao lúgubre esplendor,
fendem-se do Desejo as
largas fauces de urna.
E as Danaides, de aspecto
envelhecido e eterno,
tentam encher em vão esse
tonel de horror!
Ora, lá dentro, o Céu!
Uiva, lá dentro, o Inferno!
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