Mortos-vivos na paisagem tropical
Felipe A. P. L. Costa
Ao longo das últimas
décadas, a destruição e a fragmentação de hábitats promovidas pela nossa
espécie aceleraram em muito as taxas naturais de extinção – tanto o
desaparecimento de populações locais como a extinção global de espécies. No
atual ritmo de destruição, em breve a paisagem tropical será formada por umas
poucas ilhas de vegetação nativa mergulhadas em uma matriz de áreas
empobrecidas ou degradadas – e.g., pequenos remanescentes florestais cercados
por extensas áreas de pastagens.
De modo semelhante ao que
acontece com as ilhas oceânicas, o tamanho e o grau de isolamento desses
fragmentos afetam em cheio a biodiversidade e o tempo de persistência das
espécies que sobrevivem dentro deles. O pior dos mundos para uma ilha de
vegetação é ela ser pequena e estar longe de outras áreas semelhantes, pois a
perda de espécies é mais rápida e fácil em fragmentos pequenos e isolados, ao
mesmo tempo em que a recolonização se torna mais lenta e difícil [...].
Todavia, se por um lado a
destruição física de hábitats tem um impacto mais ou menos imediato sobre
populações e comunidades ecológicas, as consequências negativas da fragmentação
nem sempre são óbvias e, portanto, nem sempre são percebidas com facilidade e
rapidez [...]. Grandes vertebrados terrestres, por exemplo, podem desaparecer
logo após a fragmentação de seu hábitat; em outros casos, porém, os efeitos
demoram a surgir, dando a falsa e perigosa impressão de que muitas espécies
conseguirão persistir, mais do que de fato termina ocorrendo. Equívocos desse
tipo devem ser mais comuns com populações de organismos longevos, como árvores
de grande porte.
Uma análise populacional
com base apenas na presença de árvores adultas, por exemplo, pode ser enganosa.
O exame de certos atributos (sistema reprodutivo, grau de tolerância ao
endocruzamento etc.) das espécies presentes e das novas circunstâncias
ecológicas (ausência de polinizadores ou de dispersores, elevação na taxa de mortalidade etc.) pode
revelar que o fragmento remanescente é, apesar de uma boa aparência geral,
habitado por inúmeros ‘mortos-vivos’: árvores adultas, vivas e fisiologicamente
sadias, mas que não conseguem mais produzir seus próprios descendentes. Assim,
as árvores não conseguem florescer; se florescem, não conseguem frutificar; se
frutificam, suas sementes não são espalhadas; se são espalhadas, as sementes
não mais encontram locais propícios para germinar e se estabelecer...
[...]
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