O fantasma do latifúndio
Bueno de Rivera
As mãos sustendo as árvores,
a cabeça
como um barco nas nuvens,
o olhar morto como um sol
gelado
no oceano sem portos e
distâncias.
É o rei do descampado,
dormindo sobre as ervas
milenárias
rosas selvagens, sapos,
pirilampos.
Rompe o pranto nas ruas
alagadas,
é o suor dos milhões em
desespero.
Os dedos aflitos brotam
como espigas.
Lábios frios,
agonias proletárias,
música de ódio
e um berço afogado.
Sonho de estâncias,
ninhos e varandas,
mangueiras, sítios
brancos, rosas tímidas,
colonos, canto de galo,
as madrugadas
murcham no outono das
cidades,
nos prédios como túmulos.
Mas o espectro secular
habita o tempo,
os quilômetros, os rios e
os desejos.
É o espantalho das
pombas, solitário
sem ânsias, sem limites e
problemas.
Os pés medindo o espaço,
olho parado,
a cabeça serena como a
lua.
Dorme como um boi na
eternidade.
Fonte: Rivera, B. 2003. Melhores poemas de Bueno de Rivera. SP,
Global. Poema publicado em livro em 1944.
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