Forte abandonado
Goulart de Andrade
De pé, no promontório,
encravado na bronca
Penedia, onde o mar
atropelado ronca,
Ribomba, estoura,
estruge, espoca, estronda, esbarra,
Abandonado avulta o vigia
da barra!
Ó naus, podeis entrar!
Podeis vir, exilados,
Peixes, que íeis buscar
abrigo em outros lados,
Quando o bruto estridor
dos canhões sacudia
O fraguedo; e a fumaça o
almo esplendor do dia
No firmamento azul, empanava
de chofre,
Saturando todo o ar de
salitre e de enxofre!
Pássaros, volitai! Nada
aqui vos aterra:
As máquinas de morte
estendem-se por terra,
Frias, mudas, sem mais
aquele brilho antigo
Que era para a pupila um
ríspido castigo!
No muro, em cada frincha,
a grama brota inculta,
Cobre as trincheiras,
enche as guaritas, oculta
As arestas, contorna as
ameias, procura
Tapar a barbacã com a
trama verde-escura!
Agora o rubro aqui,
aparece ridente,
Não em funda ferida
estuando um sangue ardente
E impetuoso de heróis
varados nas batalhas,
Mas em flores gentis
desbrochando nas talhas
Do molhe de granito! Os
rumores de passos
E toques de clarins não
enchem os espaços
Agora! E que contraste:
estes ruídos, maninhos,
Mortíferos canhões,
guardam ninhos e ninhos,
Paz e Amor!... Pode a
abelha as melífluas colmeias
Fabricar sem temor, ao
longo das ameias!
Pode aqui vicejar a
tímida violeta!
Pode adejar a iriante e
inquieta borboleta!
Sempre azul seja o céu! A
liana filiforme
Medre e floresça! A brisa
em fruto a flor transforme!
Venha o rijo Aquilão
soprar a pulmão pleno!
Venha a Lua banhar de luz
o terrapleno!
Venha aqui dentro o Sol e
esta terra fecunde!
Venha o musgo crescendo e
a muralha circunde!
Venha gemer o mar, que
espumarento, esbarra
No rochedo em que dorme o
vigia da barra!
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