O camelo
Don Bradshaw
Nenhum capítulo sobre
desertos estaria completo sem algumas palavras sobre o ‘navio-do-deserto’ – o camelo
– que tem servido lealmente à humanidade como o melhor dos cargueiros,
provavelmente por milhares de anos, e assim continua. Primeiramente, penso que
uma palavra de cautela sobre a ‘função’ da corcova do camelo, ou corcovas, como
pode ser o caso. A história de que a corcova é o lugar onde os camelos
armazenam água por longas jornadas ao longo do deserto é apócrifa, mas tem
sobrevivido mesmo após evidências mostrando que ela é preenchida por gordura e
não por água [...].
Algumas histórias demoram
a morrer e esta merece um cálculo muito simples para provar que ela deveria ter
sido sepultada há muito tempo. [...] A gordura não é, então, uma reserva de
água distinta: ela é simplesmente uma reserva de energia do camelo, como nos
demais vertebrados.
Dito isso, vamos ver
algumas maneiras pelas quais os camelos conseguem sobreviver em regiões
desérticas, tendo em mente, entretanto, que a maioria dos dados publicados
provém de animais mantidos em currais e não em liberdade. [...] Os primeiros
estudos [...] revelaram que a temperatura corpórea do camelo varia apreciavelmente
ao longo do dia, [...] podendo flutuar tanto quanto 6,2°C quando desidratado.
Essa ‘heterotermia’ do camelo foi inicialmente interpretada como evidência de
uma pobre [capacidade] termorregulatória. Entretanto, tornou-se aparente que,
ao permitir que sua temperatura corpórea varie entre 34,5°C e 40,5°C os camelos
estavam efetivamente conservando grandes volumes de água que, de outra maneira,
seriam necessários para manter a temperatura constante. Um aumento de 6°C em um
camelo de 500 kg gera 1,26 x 107 J de calor armazenado no corpo,
equivalente à conservação de aproximadamente 6 L de água caso a transpiração
tivesse sido utilizada pelo animal para dissipar a mesma quantidade de calor. O
camelo irradia facilmente o calor armazenado para o ar frio do deserto durante
a noite [...].
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