Jaz no centro da Terra uma caverna
Manuel de Santa Maria Itaparica
4.
Jaz no centro da Terra
uma caverna
De áspero, tosco e
lúgubre edifício,
Onde nunca do Sol entrou
lucerna,
Nem de pequena luz se viu
indício.
Ali o horror e a sombra é
sempiterna.
Por um pungente e fúnebre
artifício,
Cujas fenestras, que tu
Monstro inflamas,
Respiradouros são de
negras chamas.
5.
Rodeiam este Alcáçar
desditoso
Lagos imundos de
palustres águas.
Onde um tremor e horror
caliginoso
Penas descobre,
desentranha mágoas:
Fontes geladas, fumo
tenebroso,
Congelam ondas e maquinam
fráguas,
Mesclando em um confuso
de crueldades
Chamas a neve, o fogo frialdades.
6.
Ardente serpe de
sulfúreas chamas
Os centros gira deste
Alvergue umbroso,
São as faíscas hórridas
escamas,
E o fumo negro dente
venenoso:
As lavaredas das volantes
flamas
Asas compõem ao Monstro tenebroso,
Que quanto queima, despedaça
e come,
Isso mesmo alimenta, que
consome.
7.
Um negro arroio em pálida
corrente
Irado ali se torce tão
furioso,
Que é no que morde
horrífica serpente,
E no que inficiona Áspide
horroroso:
Fétido vapor, negro e
pestilente
Exala de seu seio tão
raivoso,
Que lá no centro sempre
agonizado
De peste e sombras mostra
ser formado.
8.
As densas névoas, as
opacas sombras
Tanto encapotam a
aspereza inculta,
Que em negra tumba,
fúnebres alfombras
Parece a mesma noite se
sepulta:
Fantasmas tristes, que tu
Érebo assombras,
Terrores causam onde mais
avulta
O rouco som de aulidos
estridentes,
O triste estrondo do
ranger dos dentes.
9.
Angústias, dores, pena e
sentimento,
Suspiros, ânsias e
penalidades,
Gemidos tristes e cruel
tormento,
Furores, raivas, iras e
crueldades,
Em um continuado movimento.
Por todo o tempo e todas
as idades
Tanto a matéria, que
criam, destroçam,
Quanto a matéria, que
destroem, remoçam.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home