20 dezembro 2016

Toada do negro no banzo

Murillo Araújo

Negro –
quando cava, quando cansa,
quando pula, quando tomba,
quando grita, quando dança,
quando brinca, quando zomba
sente gana de chorá...

Negro –
quando nasce, quando cresce,
quando luta, quando corre,
quando sobe, quando desce,
quando véve, quando morre
negro pena sem pará...

Negro, aponta o ponto –
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto –
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!

Negra nua, nua –
ai Umbanda!
toma a bença à lua –
ai Umbanda!
samba nua... Oôu!

Xangô!
Meu céu s’ecureceu.
Exú me despachou...
Calunga me prendeu...

Xangô! Xangô! Xangô!
Meu rancho se acabou...
Meu reino – mar levou...
Meu bem morêu... morreu.

Negro –
negro chora, negro samba
na macumba do quilombo,
com malafo p’ra moamba
dando bumba no ribombo
do urucungo e do ganzá!

Negro –
cai no congo, cai no congo,
dos mirongas ao muganga,
todo o bando nesse jongo...
roda, negro – roda a tanga
chora banzo no gongá.

Negro aponta o ponto –
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto –
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!

Se Xangô chegasse...
ai Umbanda!
E me carregasse
ai Umbanda!
Coisa boa... Oôu!

Fonte (primeira estrofe): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 7. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1941.

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