Os intelectuais
Simon Schwartzman
A pretensão dos
intelectuais à superioridade moral e ao direito de dirigir a sociedade não é,
certamente, algo que começa com Comte, nem mesmo com Platão. Um dos temas
centrais dos estudos clássicos de Max Weber sobre as sociedades antigas da
China, Índia e Palestina, é o jogo de poder entre os militares, que governam
pela força, e os intelectuais, que tratam de governar através de sua autoridade
moral. Historicamente, os intelectuais muitas vezes surgem como grupos
especializados em assuntos religiosos. Como indica Weber, “a princípio o
sacerdócio era a carreira mais importante do intelectualismo, particularmente
onde existiam escrituras sagradas, que faziam com que os sacerdotes se
transformassem em uma guilda literária, engajada na interpretação das escrituras
e no ensino de seu conteúdo, sentido e aplicação”. Isso foi particularmente
verdade, ainda de acordo com Weber, na Índia, Egito, Islã e para o cristianismo
antigo e medieval; e menos na Grécia, Roma e China, lugares onde “o desenvolvimento
do pensamento metafísico e ético ficou nas mãos de não-sacerdotes, tanto quanto
o desenvolvimento da teologia”. Na China, o confucionismo foi uma doutrina
desenvolvida pela burocracia dos mandarins, “com uma absoluta falta de
sentimento de necessidade de salvação ou de qualquer ponto de apoio transcendental
para a ética. Em seu lugar existe uma doutrina substantivamente oportunista e
utilitária (ainda que esteticamente refinada) de convenções apropriadas a um grupo
de status burocrático” [...]. Na Índia,
os brâmanes desenvolveram uma religião secularizada que convinha à nobreza
dominante da classe guerreira, mas puderam manter para a sua própria casta o controle
dos rituais, procedimentos e normas de comportamento em que as classes
dominantes eram educadas. Outras formas de religião – mais místicas e introspectivas,
mágicas ou salvacionistas – desenvolveram-se quando as relações entre os
setores políticos e religiosos se tornavam menos harmônicas. O budismo e o
jansenismo são exemplos importantes de religiões salvacionistas que surgiram
nas tradições chinesa e hindu, desenvolvidas dentro de grupos intelectuais e
mais tarde espalhadas entre as massas. No judaísmo antigo, a desorganização do Estado
e de seu sistema sacerdotal, após Salomão, parece ter dado condições para o surgimento
de uma religião popular baseada em um movimento profético e em algo que Weber
denomina “intelectualismo pária e pequeno-burguês”, com um forte conteúdo ético
e salvacionista.
[...]
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home