O sítio chamado Juiz de Fora
Paulino de Oliveira
Antes de 1836, o que
havia era somente a fazenda do Juiz de Fora, no outro lado do rio, à qual alude
John Mawe no seu livro Viagem ao interior
do Brasil, publicado em Londres em 1812, informando ter a ela chegado depois
de transpor “uma cadeia de montanhas no meio das quais vimos outros saltos do
Paraíba, mais aproximados de sua nascente e atravessando um território cheio de
matos”, enquanto Saint Hilaire a ela se refere deste modo: “A uma légua e três
quartos de Marmelo encontra-se a habitação de Juiz de Fora, nome que vem sem
dúvida do emprego que ocupava o primeiro proprietário. Da venda de Juiz de Fora
tem-se sob os olhos uma paisagem encantadora. Essa venda foi construída na
extremidade de uma grande pastagem, cercada de morros por todos os lados. O
Paraibuna corre perto do caminho; sobre um pequeno regato que aí desemboca,
depois de haver atravessado a estrada, foi construída uma ponte de madeira de
efeito muito pitoresco; perto está uma cruz; mais ao longe veem-se uma capela
abandonada e as ruínas de um engenho de açúcar. Ao lado da venda está um vasto
rancho e muito perto um celeiro para o milho”. Luccock, citado por Burton nas
suas Viagens aos planaltos do Brasil,
a descreve como “uma capelinha e poucas pobres casas” – isto, no lugar que tem
sido indicado como o berço da cidade – sendo certo que havia nas proximidades
outros pequenos núcleos de população, como Alcaide-Mor (depois Tapera), a que
se refere Antonil e por onde não passaram, por certo, Saint Hilaire, John Mawe,
Luccock e outros, além de Marmelo e Medeiros, dos quais há apenas vagas
referências, e Boiada, a cuja existência consagrou Albino Esteves o seguinte
trecho, no Álbum: “Os habitantes da
Boiada passaram-se, pois, se bem que pesarosos, para onde os chamara os
interesses de sua rotineira existência e, uma a uma, as casas do velho povoado foram caindo até
que o matagal e o tempo se encarregaram de apagar os vestígios daquele recanto
outrora tão querido e procurado. A última recordação da povoação da Boiada foi
a viagem de Santo Antônio do morro da Boiada, conduzido processionalmente de
sua capelinha para a várzea e que durante muitos anos se encontrou no cartório
do finado padre João Roussin, devendo estar em poder de seus herdeiros [...]. E,
a propósito da transladação da imagem de Santo Antônio, narravam os do tempo e
a tradição nos trouxe a pitoresca lenda da ‘fuga do santo’, do altar, em sua
nova igreja na várzea para o velho povoado da serra da Boiada... É que o povo,
simples e ingênuo, não queria abandonar, sem uma espécie de protesto, o antigo
campo de suas lutas”.
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