04 dezembro 2016

O sítio chamado Juiz de Fora

Paulino de Oliveira

Antes de 1836, o que havia era somente a fazenda do Juiz de Fora, no outro lado do rio, à qual alude John Mawe no seu livro Viagem ao interior do Brasil, publicado em Londres em 1812, informando ter a ela chegado depois de transpor “uma cadeia de montanhas no meio das quais vimos outros saltos do Paraíba, mais aproximados de sua nascente e atravessando um território cheio de matos”, enquanto Saint Hilaire a ela se refere deste modo: “A uma légua e três quartos de Marmelo encontra-se a habitação de Juiz de Fora, nome que vem sem dúvida do emprego que ocupava o primeiro proprietário. Da venda de Juiz de Fora tem-se sob os olhos uma paisagem encantadora. Essa venda foi construída na extremidade de uma grande pastagem, cercada de morros por todos os lados. O Paraibuna corre perto do caminho; sobre um pequeno regato que aí desemboca, depois de haver atravessado a estrada, foi construída uma ponte de madeira de efeito muito pitoresco; perto está uma cruz; mais ao longe veem-se uma capela abandonada e as ruínas de um engenho de açúcar. Ao lado da venda está um vasto rancho e muito perto um celeiro para o milho”. Luccock, citado por Burton nas suas Viagens aos planaltos do Brasil, a descreve como “uma capelinha e poucas pobres casas” – isto, no lugar que tem sido indicado como o berço da cidade – sendo certo que havia nas proximidades outros pequenos núcleos de população, como Alcaide-Mor (depois Tapera), a que se refere Antonil e por onde não passaram, por certo, Saint Hilaire, John Mawe, Luccock e outros, além de Marmelo e Medeiros, dos quais há apenas vagas referências, e Boiada, a cuja existência consagrou Albino Esteves o seguinte trecho, no Álbum: “Os habitantes da Boiada passaram-se, pois, se bem que pesarosos, para onde os chamara os interesses de sua rotineira existência e, uma a uma,  as casas do velho povoado foram caindo até que o matagal e o tempo se encarregaram de apagar os vestígios daquele recanto outrora tão querido e procurado. A última recordação da povoação da Boiada foi a viagem de Santo Antônio do morro da Boiada, conduzido processionalmente de sua capelinha para a várzea e que durante muitos anos se encontrou no cartório do finado padre João Roussin, devendo estar em poder de seus herdeiros [...]. E, a propósito da transladação da imagem de Santo Antônio, narravam os do tempo e a tradição nos trouxe a pitoresca lenda da ‘fuga do santo’, do altar, em sua nova igreja na várzea para o velho povoado da serra da Boiada... É que o povo, simples e ingênuo, não queria abandonar, sem uma espécie de protesto, o antigo campo de suas lutas”.
[...]

Fonte: Oliveira, P. 1966. História de Juiz de Fora, 2ª ed. JF, s/n.

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