Sobre a especificidade enzimática
François Chapeville
Uma grande parte da informação
contida numa proteína não se destina apenas a permitir esta ou aquela
actividade. É uma informação de especificação que consiste em dizer: “Faz isto,
e nunca aquilo”. O difícil não está
em ter uma certa actividade, mas esta e mais nenhuma outra. Quando se examina
rigorosamente as coisas (e esta situação encontra-se agora a todos os níveis em
biologia molecular), verifica-se que uma dada proteína tem em geral uma certa
actividade, pela qual é catalogada e que, ao mesmo tempo, possui, a um nível
muito fraco, actividades parasitas que não têm um papel celular normal. A
bactéria Escherichia coli possui uma
enzima especializada na utilização de um açúcar, a lactose, que pode servir de
alimentação à bactéria. Pode-se-lhe fazer perder o gene codificado para essa
enzima. Ora, apesar dessa carência, certos mutantes podem continuar a utilizar
a lactose como alimento. O que acontece é que uma das proteínas da bactéria
possui, a título de actividade parasita muito fraca, a capacidade de utilizar a
lactose. Os mutantes que fabricam essa proteína em excesso, em quantidade cem
vezes superior à normal ou ainda mais, podem muito bem passar sem o gene
codificado normalmente para a proteína de utilização da lactose. De uma
maneira geral, quando as condições externas mudam, uma actividade parasita pode,
após amplificação, trazer a resposta a um desafio evolutivo.
Fonte: Noël, E., org. 1981.
O darwinismo hoje. Lisboa, Dom Quixote.
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