Lagartos brasileiros
Verônica de Novaes e Silva & Alexandre F. B. Araújo
Os lagartos constituem um
dos grupos mais ricos e
diversificados de répteis. A riqueza
do grupo e a extensão geográfica de
sua área de distribuição nos Neotrópicos
são bastante expressivas. Só no Brasil, já foram registradas mais de 220
espécies de lagartos, abrangendo um total de dez famílias diferentes. Cinco
dessas famílias (Iguanidae, Hoplocercidae, Tropiduridae, Polychrotidae e
Leiosauridae) pertencem ao grupo Iguania, enquanto as outras cinco
(Teiidae, Gymnophthalmidae, Scincidae, Gekkonidae e Anguidae) pertencem ao
grupo Scleroglossa, que também inclui as serpentes e as anfisbenas. Juntos, os grupos Iguania e
Scleroglossa formam a ordem Squamata, reunindo assim serpentes, lagartos
e anfisbenas.
Apesar de toda essa
riqueza, há um acentuado grau de desinformação sobre a relevância biológica dos
lagartos, o que tem gerado pouco ou nenhum interesse pela proteção desses
animais. Espécies endêmicas (e.g., Cnemidophorus parecis e Liolaemus
lutzae) de regiões sujeitas a processos de modificações aceleradas, como o
cerrado e o litoral do Sudeste, correm sério risco de desaparecer [...]. Para
organismos tão pouco carismáticos como os lagartos, em torno dos quais proliferam
preconceitos e noções distorcidas, a situação torna-se particularmente crítica
e preocupante.
Nos centros urbanos, por
exemplo, o fato de apenas uma pequena parcela do elevado número de espécies
brasileiras de lagartos ser facilmente avistada, frequentemente em locais pouco
ou nada atraentes, como banheiros (lagartixas, Hemidactylus mabouia), terrenos baldios (calangos-verdes, Ameiva ameiva) e bueiros (calangos, Tropidurus torquatus), leva o cidadão
comum a detratar fortemente todo o grupo. Em locais menos urbanizados, onde é
possível encontrar um maior número de espécies, é comum ouvir relatos de
moradores nos quais os lagartos assumem características e atitudes suspeitas e
potencialmente perigosas aos seres humanos, evidenciando um acentuado preconceito
cultural. Uma senhora informou que existem lagartixas na Amazônia que chupam o
sangue das pessoas, enfraquecendo-as e causando anemias. O relato foi feito com
convicção irrefutável e exemplificado por vários ‘casos’. Uma família baiana
não repelia e até se alimentava de calangos-verdes (Ameiva ameiva), mas os meninos do local ficavam
especialmente assustados ao avistar o animal, comentando sobre o perigo de ser
mordido por aqueles “dentes enormes”. Em uma fazenda goiana, um bicho-preguiça
(o camaleão Polychrus acutirostris) escalava uma trepadeira, enquanto
os meninos que o observavam ficaram amedrontados ao ver aquele animal
“perigosíssimo”, “que tinha o hábito de grudar nas pessoas e só se soltar com o
barulho de um trovão ou de um avião passando”.
[...]
Fonte: Silva, V. N. &
Araújo, A. F. B. 2008. Ecologia dos
lagartos brasileiros. RJ, Technical Books.
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