A pérola
Clodoaldo de Alencar
Na montra azul do mar, sobre o lençol de
argila,
que a tintura do lodo há milênios encarde,
– desde que nasce a aurora e morre, em sangue, a tarde,
sob a equórea pressão a pérola cintila.
A onda, espúmea e revel, que ora avança e vacila,
no evasivo correr de alva Ninfa em alarde
e em cujos ombros nus o ouro dos astros arde,
não lhe rouba, sequer, a postura tranquila.
O estojo em que ela fulge o homem-do-mar presume
e, num mergulho audaz, vai procurá-la em torno
às rosas de coral dos jardins sem perfume.
Depois, rompendo o leque a mil sargaços, boia,
trá-la, fá-la viver presa a colo alvo e morno:
– joia fina a pompear no engaste de outra joia.
Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1961.
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