Se entrando no retrato a sobrancelha
Se entrando no retrato a sobrancelha
destoa da harmonia de um passado
e o brinco pendente de uma orelha
dorme tranquilo em estojo acolchoado,
se a cadeira ali nova agora é velha
e a névoa do peitilho foi bordado
nesse tempo que em pouco se assemelha
ao tempo que hoje em dia nos é dado,
não quer dizer que a vida tenha sido
inútil e perversa ou desfocada
do retrato só visto e nunca lido
por quem da vida saiba a senha errada.
Terei apenas eu sobrevivido
para ler tal silêncio em voz calada.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1996.
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