15 setembro 2020

A questão do paleoíndio

Pedro Ignácio Schmitz

Ao estudarem os sítios do homem pré-histórico, os arqueólogos descrevem não apenas os artefatos recuperados, os testemunhos da alimentação, os restos mortais, o ritual, a arte, os locais e as formas do estabelecimento e de relacionamento observadas dentro dos sítios e entre sítios e áreas, mas, por velha influência histórica e evolucionista, também classificam as culturas arqueológicas assim estabelecidas em períodos ou etapas, que podem ser locais, regionais, pan-americanas ou universais.

No Brasil, as periodizações locais e regionais apresentam algumas controvérsias por se basearem em diferentes pressupostos, métodos ou dados, mas são relativamente fáceis de resolver ou compreender; as periodizações pan-americanas ou universais são menos frequentemente usadas e oferecem alguns problemas. Um deles é a aplicação do conceito de paleoíndio às culturas mais antigas do Brasil Central.

No Velho Mundo, os nomes geralmente usados na periodização universal são Paleolítico (Inferior, Médio e Superior), Mesolítico, Neolítico e Civilização ou Urbanismo (Pré-Clássico, Clássico e Pós-Clássico).

Os nomes americanos aproximadamente correspondentes são: Período Lítico, que pode ser usado com sentido semelhante ao Paleolítico e dividido em um período Pré-Pontas e outro Paleoíndio; Período Arcaico (em vez de Mesolítico); Período Formativo (em vez de Neolítico); Chefias, Florescente e Expansivo ou Militarista. [...]

Os termos nos quais nos deteremos são Período Paleoíndio e Período Arcaico. [...]

O conceito de cultura do Paleoíndio contém, entre outros, os seguintes elementos: populações que teriam vivido predominantemente de caça grande, também chamada megafauna; sítios principalmente de matança, não de acampamentos residenciais; artefatos identificadores, pontas bifaciais, especializadas, de projétil, geralmente acompanhadas de lascas usadas como facas, raspadores e raspadeiras; o ambiente, um período frio e seco; população, pouco numerosa, dispersa e nômade, organizada em bandos frouxos. [...]

O conceito de Arcaico se refere a uma cultura de progressiva adaptação ao clima pós-glacial, mais quente, mais úmido, que vai se aproximando do nosso ambiente atual. A cultura desse período se diversificaria com o homem buscando novos recursos alimentares nas savanas, nas estepes, na beira do mar e dos lagos; a caça não seria mais especializada em megafauna, mas geral e diversificada; a coleta animal e vegetal aumentaria e a experimentação e o conhecimento acumulado levariam à domesticação de plantas e animais que, no Formativo, já se transformaria em sustento confiável, mesmo se ainda complementar.

Fonte: Schmitz, P. I. 1999. A questão do paleoíndio. In: M. C. Tenório, org. Pré-história da Terra Brasilis. RJ, Editora UFRJ.

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